Percy Jackson: Gregos e Romanos
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Percy Jackson: Gregos e Romanos

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primeiro livro de herois do olimpo part 1

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lucanios

lucanios

oi pessoal,estarei postando herois do olimpo para quem quiser ler,aproveitem!






ANTES MESMO DE SER ELETROCUTADO, Jason estava tendo um dia podre.
Ele acordou no banco traseiro de um ônibus escolar, sem ter certeza de onde
estava, segurando a mão de uma garota que ele não conhecia. Essa não era
necessariamente a parte podre. A menina era bonita, mas ele não conseguia entender
quem ela era ou o que ela estava fazendo ali. Ele se sentou e esfregou os olhos, tentando
pensar.
Umas poucas dúzias de crianças espalhavam-se pelos bancos em frente ao dele,
ouvindo seus iPods, conversando, ou dormindo. Todos eles pareciam ter sua idade…
Quinze? Dezesseis? Ok, isso era assustador. Ele não sabia sua própria idade.
O ônibus trafegava por uma estrada esburacada. Do lado de fora das janelas,
passava o deserto, debaixo de um brilhante céu azul.
Jason estava certo que ele não morava no deserto. Ele tentou pensar
novamente… a última coisa que ele lembrava…
A garota apertou sua mão. “Jason, você está bem?”
Ela usava jeans desbotados, botas de caminhada, e uma jaqueta de lã de
snowboard. Seu cabelo castanho-chocolate era cortado de forma desigual, com os lados
trançados para baixo. Ela não usava maquiagem, como se ela estivesse tentando não
chamar atenção para si mesma; mas não funcionou. Ela era realmente bonita. Seus olhos
pareciam mudar de cor como em um caleidoscópio — marrom, azul, e verde.
Jason soltou a mão dela. “Hum, eu não —”
Na parte da frente do ônibus, um professor gritou “Está bem, bolinhos, ouçam!”
O homem obviamente era um treinador. Seu boné de beisebol estava afundado
na cabeça, deixando a vista somente seus olhos lustrosos. Ele tinha uma barbicha rala e
uma cara azeda, como se tivesse comido algo mofado. Seus braços castanhos e peito
vestindo uma radiante camisa pólo laranja. Suas calças de treino de náilon e seus Nikes
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estavam imaculadamente brancos. Usava um apito pendurado no pescoço, e um
megafone estava preso ao seu cinto. Ele teria parecido bastante assustador se não tivesse
apenas um metro e meio de altura. Quando ele se levantou no corredor, um dos
estudantes gritou “Levante-se, Treinador Hedge!”
“Eu ouvi isso!” O treinador examinou o ônibus atrás do ofensor. Então seus
olhos fixaram-se em Jason e sua carranca se aprofundou.
Uma sacudida desceu pela coluna de Jason. Ele estava certo de que o treinador
sabia que ele não pertencia aquele lugar. Ele estava indo chamar Jason, perguntar o que
ele estava fazendo no ônibus — e Jason não saberia o que dizer.
Só que o Treinador Hedge olhou para longe e pigarreou. “Chegaremos em cinco
minutos! Permaneçam com sua dupla. Não percam suas planilhas. E se um de vocês
preciosos pequenos bolinhos causarem qualquer problema nessa excursão, eu vou
pessoalmente mandá-los de volta para o campus do jeito difícil.”
Ele pegou um taco de baseball e fez como se estivesse batendo em um pombocorreio.
Jason olhou para a garota ao seu lado. “Ele pode falar conosco desse jeito?”
Ela deu de ombros. “Ele sempre fala. Essa é a Wilderness School, ‘Onde
crianças são os animais’.”
Ela falou como se fosse uma piada que tinham partilhado antes.
“Isso é um algum tipo de engano,” Jason falou. “Eu não devia estar aqui.”
O garoto que estava a sua frente virou e riu. “Sim, certo, Jason. Todos nós fomos
enquadrados! Eu não fugi seis vezes. Piper não roubou uma BMW.”
A garota corou. “Eu não roubei esse carro, Leo!”
“Oh, eu esqueci, Piper. Qual foi a sua história? Você ‘jogou conversa’ para o
vendedor emprestar para você?” Ele levantou as sobrancelhas para Jason como se
dissesse, Você acredita nela?
Leo parecia um elfo latino do Papai Noel, com cabelos pretos encaracolados,
orelhas pontudas, uma cara alegre, infantil, e um sorriso travesso que lhe disse logo:
esse cara não deve ser confiável na presença de fósforos ou objetos cortantes. Seus
dedos longos e ágeis não paravam de se movimentar — batucando no banco, colocando
o cabelo atrás das orelhas, brincando com os botões do paletó de farda de exército. Ou o
garoto era naturalmente hiperativo ou se entupiu de açúcar e cafeína o suficiente para
dar um ataque cardíaco a um búfalo.
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“De qualquer forma,” disse Leo, “Eu espero que esteja com a sua planilha,
porque eu usei a minha para fazer bolas de cuspe a dias atrás. Por que você está me
olhando assim? Alguém desenhou na minha cara de novo?”
“Eu não te conheço,” Jason disse.
Leo deu-lhe um sorriso de crocodilo. “Claro. Não sou seu melhor amigo. Eu sou
o clone mau dele.”
“Leo Valdez!” Treinador Hedge gritou da frente. “Algum problema aí atrás?”
Leo piscou para Jason. “Assista essa.” Ele virou-se para frente. “Desculpe-me,
Treinador! Eu estava tendo problemas para te escutar. Você pode usar seu megafone,
por favor?”
O Treinador Hedge grunhiu como se ele estivesse feliz por ter uma desculpa. Ele
tirou o megafone do seu cinto e continuou a dar orientações, mas sua voz saiu como a
de Darth Vader. As crianças caíram na gargalhada. O treinador tentou novamente, mas
desta vez o megafone bradou: “A vaca diz moo!”
Os garotos gritaram, e o treinador bateu o megafone. “Valdez!”
Piper abafou um riso. “Meu Deus, Leo. Como você fez isso?”
Leo deixou uma pequena chave de fenda Phillips cair de sua manga. “Sou um
garoto especial.”
“Gente, é sério,” Jason confessou. “O que estou fazendo aqui? Para onde
estamos indo?”
Piper arqueou suas sobrancelhas. “Jason você está brincando?”
“Não! Eu não tenho idéia —”
“Ah, sim, ele está brincando,” Disse Leo. “Ele está tentando descontar daquela
vez que tinha creme de barbear na Jell-O, não é?”
Jason olhou para ele sem expressão.
“Não, eu acho que ele está falando sério.” Piper tentou pegar sua mão
novamente, mas ele a puxou.
“Desculpe-me,” Ele disse. “Eu não — Eu não posso —”
“É isso aí!” Treinador Hedge gritou pela frente. “A fila de trás acabou de se
oferecer para limpar a bagunça depois do almoço!”
O resto dos garotos aplaudiu.
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“Isso é chocante,” Disse Leo.
No entanto, Piper manteve seus olhos em Jason, como se ela não pudesse se
decidir se estava machucada ou preocupada. “Você bateu a cabeça ou algo assim? Você
realmente não sabe quem somos?”
Jason deu com os ombros, impotente. “É pior do que isso. Eu não sei quem sou.”
O ônibus deixou-os na frente de um grande complexo de estuque vermelho
parecido com um museu, localizado no meio do nada. Talvez seja isso o que é: o Museu
Nacional de Meio do Nada, Jason pensou. Um vento frio soprava do deserto. Jason não
tinha prestado muita atenção ao que ele estava usando, mas não era nem perto de ser
quente o suficiente: jeans e tênis, uma camiseta roxa, e um blusão preto fino.
“Então, um curso intensivo para amnésia,” Leo disse, em um tom prestativo que
levou Jason a pensar que não ajudaria em nada. “Nós frequentamos a ‘Wilderness
School’” — Leo fez as aspas no ar com os dedos. “O que significa que somos ‘crianças
más’. Sua família ou o órgão responsável por você decidiram que você era muito
problemático, então te mandaram para esta adorável prisão — me desculpe ‘internato’
— em Armpit, Nevada, na qual você aprende valiosas habilidades naturais como correr
dez quilômetros por dia, através dos cactos e tecelagem de margaridas em chapéus! E
para um tratamento especial nós vamos a viagens ‘educacionais’ de campo com o
Treinador Hedge que mantém a ordem com um taco de baseball. Está tudo voltando
para você agora?”
“Não.” Jason olhou apreensivamente para as outras crianças: vinte garotos,
talvez, e a metade deste número de garotas. Nenhum deles parecia ser criminosos
perigosos, só que ele imaginou o que eles teriam feito para serem sentenciados a uma
escola para delinquentes e imaginou por que ele pertencia a este grupo.
Leo revirou os olhos. “Você realmente vai continuar com isso, não é? Ok, então
nós três entramos aqui juntos este ano. Nós somos bem próximos. Você faz tudo o que
eu digo, me dá sua sobremesa e faz meus deveres…”
“Leo!” Piper vociferou.
“Está bem. Ignore esta última parte. Mas nós somos amigos. Bom, Piper é um
pouco mais do que sua amiga nas últimas semanas —”
“Leo, pára com isso!” O rosto de Piper ficou vermelho. Jason também podia
sentir seu rosto queimando. Pensou que se lembraria se estivesse saindo com uma
garota como Piper.
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“Ele está com amnésia ou algo do tipo.” Piper disse. “Nós temos que contar a
alguém.”
Leo zombou. “Quem, o Treinador Hedge? Ele tentaria curar Jason batendo em
cima da sua cabeça.”
O treinador estava na frente do grupo, gritando ordens e assoprando seu apito
para manter as crianças na fila, mas, de vez em quando, ele olhava para Jason e franzia
as sobrancelhas.
“Leo, Jason precisa de ajuda.” Piper insistiu. “Ele teve uma concussão ou…”
“E aí, Piper.” Um dos outros meninos ficou para trás para se juntar aos três
enquanto a turma se dirigia para o museu. O garoto novo se espremeu entre Jason e
Piper e derrubou Leo. “Não fale com estes perdedores. Você é minha parceira, lembrase?”
O novo rapaz tinha cabelos escuros cortado ao estilo do Super-Homem, era bem
bronzeado, e tinha dentes tão brancos que eles deveriam vir com uma placa de
recomendação: não olhe diretamente para os dentes, pode causar cegueira permanente.
Ele vestia um casaco dos Dallas Cowboys, calças jeans e botas ao estilo faroeste, e
sorria como se fosse um presente de Deus para todas as meninas delinquentes de todo
lugar. Jason odiou-o instantaneamente.
“Vá embora, Dylan,” Piper resmungou. “Eu não pedi para trabalhar com você.”
“Ah, não seja assim. Hoje é o seu dia de sorte!” Dylan enganchou seu braço no
de Piper e arrastou-a pela entrada do museu. Piper deu uma última olhada por sobre o
ombro, como se fosse um pedido de ajuda urgente.
Leo se levantou e se limpou. “Eu odeio esse cara.” Ele ofereceu seu braço a
Jason, como se eles fossem entrar juntos pulando. “Eu sou o Dylan. Eu sou tão legal, eu
gostaria de namorar comigo mesmo, mas eu não consigo descobrir como! Você quer
sair comigo, então? Você tem tanta sorte!” “Leo,” Jason disse, “você é estranho.”
“É, você me diz isso bastante.” Leo sorriu largamente. “Mas se você não se
lembra de mim, significa que eu posso recontar todas as minhas piadas antigas. Vamos
lá!”
Jason deduziu que, se este era seu melhor amigo, sua vida devia ser uma
bagunça, mas ele seguiu Leo para dentro do museu.
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Eles caminharam para dentro do prédio, parando aqui e ali para o treinador Hedge lhes
dar um sermão com o seu megafone, que alternadamente o fazia parecer um lorde Sith
ou soltava comentários aleatórios como “o porco diz oink.”
Leo continuava tirando porcas de parafusos, pregos, limpadores de cachimbo do
bolso e juntando-os, como se ele tivesse que manter suas mãos ocupadas o tempo todo.
Jason estava distraído demais para prestar muita atenção para as exposições, mas
elas falavam do Grand Canyon e da tribo Hualapai, que era dona do museu.
Algumas garotas continuavam olhando para Piper e Dylan e rindo baixinho.
Jason deduziu que estas garotas eram do grupo das populares. Elas usavam calças jeans
combinando, blusas rosa e tanta maquiagem que elas poderiam ir a uma festa de Dia das
Bruxas.
Uma delas disse “Ei, Piper, a sua tribo cuida desse lugar? Você entra de graça se
fizer a dança da chuva?”
As outras garotas riram. Até o assim dito parceiro da Piper, Dylan, suprimiu um
sorriso. O casaco de snowboard de Piper escondeu suas mãos, mas Jason teve a
sensação de que ela tinha cerrado seus punhos.
“Meu pai é Cherokee,” ela disse, “e não Hualapai. Mas é claro, você precisaria
de alguns neurônios para saber a diferença, Isabel.”
Isabel abriu os olhos em uma surpresa irônica, de maneira que pareceu uma
coruja maquiada. “Ah, desculpe-me. A sua mãe era dessa tribo? Ah, é verdade. Você
nunca conheceu sua mãe.”
Piper avançou sobre ela, mas antes que uma briga pudesse começar, o treinador
Hedge vociferou “Já chega, vocês aí atrás! Sejam um bom exemplo ou eu vou pegar o
meu taco de baseball!” O grupo prosseguiu para a próxima exposição, mas algumas
meninas continuaram soltando pequenos comentários para Piper.
“É bom estar de volta à reserva?” uma perguntou com uma voz doce.
“O pai deve estar bêbado demais para trabalhar,” outra disse com um pesar falso.
“É por isso que ela se tornou cleptomaníaca.”
Piper as ignorava, mas Jason estava pronto para socá-las. Ele poderia não se
lembrar de Piper e nem de quem ele era, mas ele odiava crianças más. Leo segurou seu
braço. “Fique calmo. Piper não gosta que lutemos suas batalhas por ela. Além disso, se
essas garotas descobrissem a verdade sobre o pai dela, elas estariam todas a
reverenciando e gritando ‘nós não somos merecedoras!’”
“Por quê? O que tem o pai dela?”
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Leo riu, sem acreditar. “Você não está brincando? Você realmente não se lembra
de que o pai da sua namorada…”
“Olha, eu queria lembrar, mas eu nem mesmo me lembro dela, muito menos de
seu pai.”
Leo assobiou. “Tanto faz. Nós temos que conversar quando voltarmos ao
dormitório.”
Eles chegaram ao final da sala de exibições, onde grandes portas de vidro
levavam a um terraço.
“Tudo bem, bolinhos,” o treinador Hedge anunciou. “Vocês estão prestes a ver o
Grand Canyon. Tentem não quebrá-lo. O observatório aguenta o peso de setenta jatos,
então vocês, pesos-pena, devem estar seguros lá. Se possível, evitem empurrar uns aos
outros por sobre a cerca, porque isso me daria mais papelada pra preencher.”
O treinador abriu as portas e todos saíram. O Grand Canyon se estendia diante
deles, ao vivo e em pessoa. Além da beira, se abria uma passarela em forma de
ferradura feita de vidro, de forma a permitir que você possa ver através dela.
“Cara,” Leo disse. “Isso é muito louco.”
Jason tinha de concordar. Apesar de sua amnésia e de sua sensação de que ele
não pertencia àquele grupo, ele não podia evitar ficar impressionado.
O desfiladeiro era maior e mais largo do que se poderia imaginar por uma foto.
Eles estavam tão alto que pássaros voavam abaixo deles. Quinhentos pés abaixo, um rio
serpenteava ao longo do pé do desfiladeiro. Bancos de nuvens de tempestade haviam se
movido ao alto enquanto eles estavam dentro do museu, lançando sombras que
pareciam rostos zangados sobre o penhasco. Até onde Jason podia ver em qualquer
direção, ravinas vermelhas e cinzas cortavam o deserto como se um Deus louco tivesse
o cortado com uma faca.
Jason sentia uma dor perfurante atrás dos olhos. Deuses loucos… De onde ele
tirou essa idéia? Ele sentia como se tivesse chegado perto de algo importante — algo
que ele devia saber. Ele também tinha a inequívoca sensação de que ele estava em
perigo.
“Você está bem?” Leo perguntou. “Você não vai vomitar por cima da cerca, vai?
Porque eu deveria ter trazido minha câmera.”
Jason se apoiou na grade. Ele estava tremendo e suando, mas não tinha nada a
ver com altura. Ele piscou e a dor atrás dos olhos melhorou um pouco.
“Eu estou bem,” ele disse. “É só uma dor de cabeça.”
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Trovões estrondavam acima deles. Um vento frio quase o derrubou de lado
“Isto não pode ser seguro.” Leo lançou um olhar furtivo para as nuvens. “A
tempestade está bem acima de nós, mas o céu está limpo ao nosso redor. Estranho,
não?”
Jason olhou para cima e viu que Leo estava certo. Um círculo de nuvens escuras
havia se estacionado em cima do observatório, mas o resto do céu em todas as direções
estava perfeitamente limpo. Jason teve um pressentimento ruim sobre isso.
“Tudo bem, molengas!” Gritou o Treinador Hedge. Ele franziu o cenho para a
tempestade como se isso o incomodasse muito. “Talvez tenhamos que encurtar o
passeio, então mãos a obra! Lembrem-se, frases completas!”
A tempestade rugia, e a cabeça de Jason começou a doer de novo. Sem saber por
que fez isso, enfiou a mão no bolso do jeans e de lá tirou uma moeda — um círculo de
ouro do tamanho de uma moeda de 50 cents, um pouco mais espessa e mais desigual.
Em um dos lados estava estampada a figura de um machado de batalha. No outro estava
o rosto de um garoto coberto de louros. A inscrição dizia algo como ivlivs.
“Nossa, isso é ouro?” Leo perguntou. “Você esteve escondendo de mim!”
Jason colocou a moeda longe, se perguntando como ele viria a tê-la, e porque ele
sentia que precisaria dela em breve.
“Não é nada” ele disse. “Só uma moeda.”
Leo balançou os ombros. Talvez sua mente tivesse que manter se movimentando
tanto quanto suas mãos. “Vamos lá” ele disse. “Te desafio a cuspir na beirada.”
Eles não se esforçaram muito na planilha. Por um motivo, Jason estava muito
distraído com a tempestade e com os seus próprios sentimentos confusos. Por outro
motivo, ele não tinha nenhuma idéia como “nomear três camadas sedimentares que você
observa” ou “descrever dois exemplos de erosão.”
Leo não era de muita ajuda. Ele estava muito ocupado construindo um
helicóptero de limpadores de cachimbo.
“Veja isso.” Ele lançou o helicóptero. Jason imaginou que iria despencar, mas as
lâminas dos limpadores de cachimbo estavam realmente afiadas. O pequeno helicóptero
voou pelo desfiladeiro antes de perder a força inicial e cair em espiral no vazio.
“Como você fez isso?” Jason perguntou.
Leo deu de ombros “Poderia ter sido mais legal se eu tivesse alguns elásticos.”
“Falando sério,” Jason falou, “Nós somos amigos?”
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“Na última vez que eu verifiquei.”
“Você tem certeza? Qual foi o primeiro dia que nós nos encontramos? Do que
nós falamos?”
“Foi…” Leo franziu a testa. “Não lembro exatamente. Tenho ADHD, cara. Você
não pode esperar que eu me lembre de detalhes.”
“Mas eu não me lembro de nada de você. Não me lembro de ninguém daqui. E
se —”
“Você está certo e todo mundo está errado?” Leo perguntou. “Você acha que só
apareceu aqui nesta manhã, e todos nós temos memórias falsas de você?” Uma pequena
voz na cabeça de Jason dizia, É exatamente o que eu penso.
No entanto, isso parecia loucura. Todo mundo tinha certeza da presença dele.
Todos agiram como se ele fosse uma parte normal da classe — exceto para o Treinador
Hedge.
“Pegue a planilha.” Jason entregou o papel para Leo. “Eu já volto.”
Antes que Leo pudesse protestar, Jason se dirigiu ao observatório.
O grupo escolar deles tinha o lugar inteiramente para eles mesmos. Talvez fosse
muito cedo para turistas, ou talvez o clima estranho tenha assustado todos. As crianças
da ‘Wilderness School’ se espalharam em pares em todo o observatório. A maioria
estava brincando ou conversando. Alguns garotos estavam jogando moedas de um
centavo para além da cerca. A mais ou menos cinqüenta pés de distancia, Piper estava
tentando preencher a sua planilha, mas o seu parceiro estúpido, Dylan, estava jogando
cantadas nela, colocando a sua mão no ombro da garota e dando-lhe aquele ofuscante
sorriso branco. Ela continuava afastando-o, e quando ela viu Jason, olhou para ele como
quem diz, Estrangule este garoto para mim.
Jason fez sinal para ela esperar. Ele caminhou até o Treinador Hedge, que estava
encostado em seu taco de baseball, estudando as nuvens de tempestade.
“Você fez isto?” o treinador perguntou para ele.
Jason deu um passo para trás. “Fiz o que?” Soou como se o treinador tivesse
acabado de perguntar se ele tinha feito a tempestade.
O Treinador Hedge olhou para ele, seus lustrosos olinhos brilhando sob a aba do
boné. “Não brinque comigo, criança. O que você está fazendo aqui e por que está
atrapalhando meu trabalho?”
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“Você quer dizer que… você não me conhece?” Jason falou. “Não sou um de
seus alunos?”
Hedge inspirou. “Nunca tinha visto você até hoje.”
Jason estava tão aliviado que quase quis chorar. Pelo menos ele não estava
ficando louco. Ele estava no lugar errado. “Olhe, senhor, eu não sei como cheguei aqui.
Eu só acordei no ônibus da escola. Tudo que eu sei é que eu não deveria estar aqui.”
“Está certíssimo.” A voz rouca de Hedge caiu para um sussurro, como se ele
fosse partilhar um segredo. “Você tem uma maneira poderosa de manipular a névoa,
criança, já que você pode fazer todas essas pessoas pensarem que te conhecem; mas
você não pode me fazer de tolo. Eu estive farejando um monstro por dias. Eu sabia que
nós tínhamos um invasor, mas você não cheira como um monstro. Você cheira como
um meio-sangue. Então — quem é você, e de onde você veio?”
A maior parte do que o treinador falou não fazia sentido, mas Jason decidiu
responder honestamente. “Não sei quem eu sou. Não tenho nenhuma lembrança. Você
tem que me ajudar.”
Treinador Hedge estudou o seu rosto como se estivesse tentando ler os
pensamentos de Jason.
“Ótimo,” murmurou Hedge. “Você está sendo verdadeiro.”
“É claro que eu estou! E o que é tudo isso sobre monstros e meio-sangues? São
códigos ou alguma coisa assim?”
Hedge estreitou seus olhos. Parte de Jason se perguntou se o cara era só louco. A
outra parte, porém, sabia melhor.
“Olhe garoto,” Hedge falou, “Eu não sei quem você é. Só sei o que você é, e isso
significa problema. Agora eu tenho que proteger três de vocês e não dois. Você é o
pacote especial? É isso?”
“Do que você está falando?”
Hedge olhou para a tempestade. As nuvens estavam ficando mais grossas e mais
escuras, pairando diretamente sobre a passarela.
“Essa manhã,” Hedge falou, “recebi uma mensagem do acampamento. Eles
disseram que uma equipe de extração está a caminho. Eles estão vindo para pegar um
pacote especial, mas eles não deveriam me dar detalhes. Eu pensei por mim mesmo. Os
dois que eu estou observando são mais poderosos, mais velhos que a maioria. Eu sei que
eles estão sendo perseguidos. Eu posso sentir o cheiro de um monstro no grupo. Eu
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imaginei que esse era o motivo para de repente o acampamento estar frenético para
buscá-los. Então você aparece do nada. Então, você é o pacote especial?.”
A dor atrás dos olhos de Jason ficou pior do que nunca. Meio-sangues.
Acampamento. Monstros. Ele continuou sem entender nada do que Hedge estava
falando, mas as palavras lhe deram um pesado congelamento nos miolos — como se sua
mente estivesse tentando acessar informações que deveriam estar ali, mas não estavam.
Ele tropeçou, e o Treinador Hedge o pegou. Para um cara pequeno, o treinador
tinha mãos de ferro.
“Calma lá, molenga. Você disse que não tem lembranças, né? Bem. Eu vou ter
que te observar, também, até a equipe chegar aqui. Vamos deixar o diretor descobrir
essas coisas.”
“Que diretor?” disse Jason. “Que acampamento?”
“Apenas sente. Reforços devem chegar aqui em breve. Espero que nada aconteça
antes —”
Um raio caiu acima de suas cabeças. O vento se manifestou com vingança.
Planilhas voaram para dentro do Grand Canyon, e a ponte inteira estremeceu. Crianças
gritaram, tropeçando e agarrando os trilhos.
“Eu preciso falar uma coisa,” Hedge resmungou. Ele gritou em seu megafone:
“Todo mundo lá dentro! A vaca disse mu! Fora do observatório”
“Achei que você disse que isso era estável!” Jason gritou por cima do vento.
“Em circunstâncias normais,” Hedge concordou, “as quais não são. Vamos!”
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Capítulo II
A TEMPESTADE SE TRANSFORMOU NUM FURACÃO EM MINIATURA. Um funil de
nuvens serpenteava em direção ao observatório como os tentáculos de uma águamarinha
monstro.
Crianças gritaram e correram para o prédio. O vento arrancou seus cadernos,
jaquetas, chapéus e mochilas. Jason derrapou pelo piso escorregadio.
Leo perdeu o equilíbrio e quase caiu sobre os trilhos, mas Jason agarrou sua
jaqueta e puxou ele de volta.
“Obrigado, cara!” Leo gritou.
“Vai, vai, vai!” Disse o treinador Hedge.
Piper e Dylan estavam segurando as portas abertas, agrupando as outras crianças
no interior. A jaqueta de snowboard de Piper estava se agitando descontroladamente
com o vento, seu cabelo preto estava em todo seu rosto. Jason pensou que ela devia
estar congelando, mas ela parecia calma e confiante — falando para os outros que daria
tudo certo, encorajando eles a se manterem em movimento.
Jason, Leo e o treinador Hedge correram em direção a eles, mas era como correr
em areia movediça. O vento parecia lutar contra eles, os empurrando de volta.
Dylan e Piper empurraram mais uma criança para dentro, e depois perderam o
seu domínio sobre a porta. Eles acabaram fechados no observatório. Piper puxou as
alças. As crianças que estavam no interior bateram nos vidros, mas as portas pareciam
presas.
“Dylan ajude!” Piper gritou.
Dylan só ficou observando, com um sorriso idiota, sua jaqueta dos Cowboys
ondulando ao vento, como se ele repentinamente estivesse gostando da tempestade.
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“Sinto muito, Piper,” disse ele. “Estou cansado de ajudar.” Ele movimentou
rapidamente seu pulso e Piper voou para trás, batendo na porta e deslizando pelo convés
do observatório.
“Piper!” Jason tentou a custo ir para frente, mas o vento estava contra ele, e o
Treinador Hedge o puxou para trás.
“Treinador,” Disse Jason, “Deixe-me ir!”
“Jason, Leo, fiquem atrás de mim,” o treinador ordenou. “Essa é minha luta. Eu
deveria saber que era nosso monstro.”
“O que?” Leo demandou. Uma planilha errante bateu em seu rosto, mas ele a
afastou. “Que monstro?”
O boné do treinador foi soprado para longe e acima de seu cabelo crespo
estavam dois galos — como aqueles que os personagens de desenho animado ganham
quando batem a cabeça. O Treinador Hedge levantou seu bastão de baseball — mas não
era mais um bastão regular. De alguma forma ele tinha se transformado em um bastão
de ramo de árvore em forma crua, com ramos e folhas ainda anexados.
Dylan deu a ele o seu sorriso feliz e psicótico. “Ah, vamos lá, treinador. Deixa o
garoto me atacar. Afinal, você está ficando muito velho para isso. Não é por isso que
eles te trouxeram para esta escola estúpida? Eu estive no seu time a temporada toda e
você nem reparou. Você está perdendo seu faro, vovô.”
O treinador fez um som irritado, como um animal balindo. “É isso aí,
queridinho. Eu vou te derrubar.”
“Você acha que pode proteger três meio-sangues de uma vez só, velho?” Dylan
riu. “Boa sorte.”
Dylan apontou para Leo e uma nuvem em forma de funil se materializou ao
redor dele. Leo voou pelo observatório como se ele tivesse sido arremessado. De
alguma forma, ele conseguiu girar no ar e bateu de lado na parede do desfiladeiro. Ele
derrapou, procurando desesperadamente por algum apoio para as mãos. Finalmente, ele
agarrou uma pequena fenda cerca de 50 pés abaixo da passarela e se segurou com as
pontas dos dedos.
“Ajudem-me!” ele gritou para os outros. “Uma corda, por favor? Um elástico de
bungee jump? Alguma coisa?”
O treinador Hedge praguejou e atirou para Jason seu galho. “Eu não sei quem é
você, garoto, mas eu espero que você seja bom. Mantenha aquela coisa ocupada” — ele
apontou com o dedão para Dylan — “enquanto eu pego o Leo”
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“Pegá-lo como?” Jason perguntou. “Você vai voar?”
“Voar, não. Escalar.” Hedge arrancou seus sapatos e Jason quase teve um
enfarte. Ele tinha cascos — cascos de bode. O que significava que aquelas coisas em
sua cabeça, Jason compreendeu, não eram galos. Eram chifres.
“Você é um fauno,” Jason disse.
“Sátiro!” vociferou Hedge. “Faunos são Romanos. Mas nós discutiremos isso
depois.”
Hedge pulou a grade. Ele partiu em direção à parede do desfiladeiro e bateu com
os cascos primeiro. Ele desceu o penhasco com uma agilidade incrível, encontrando
apoios para os pés não maiores do que selos, desviando de redemoinhos que tentavam
atacá-lo enquanto ele prosseguia na direção de Leo.
“Isso não é fofo?” Dylan se virou para Jason. “Agora é a sua vez, garoto.”
Jason atirou o bastão. Pareceu inútil com ventos tão fortes, mas o galho voou
direto na direção de Dylan, até curvando quando ele tentava desviar, e bateu na sua
cabeça com tanta força que ele caiu de joelhos.
Piper não estava tão estupefata quanto parecia. Seus dedos se fecharam ao redor
do galho quando este rolou para perto dela, mas, antes que ela pudesse usá-lo, Dylan se
levantou. Sangue — sangue dourado — corria de sua testa.
“Boa tentativa, garoto.” Ele tinha um olhar penetrante para Jason. “Mas você vai
ter que fazer melhor.”
O observatório estremeceu. Trincados apareceram no vidro. Dentro do museu, as
crianças pararam de bater nas portas. Elas se afastaram, olhando aterrorizadas.
O corpo de Dylan se dissolveu em fumaça, como se suas moléculas estivessem
se descolando. Ele tinha o mesmo rosto, o mesmo sorriso branco brilhante, mas todo o
seu corpo era repentinamente composto de um vapor preto em espiral, seus olhos
pareciam faíscas elétricas em uma viva nuvem de tempestade. Ele abriu asas pretas de
fumaça e se elevou acima do observatório. Se anjos pudessem ser maus, Jason pensou,
eles pareceriam exatamente com isso.
“Você é um ventus,” Jason disse, apesar de não ter nenhuma idéia de como ele
sabia essa palavra. “Um espírito da tempestade.”
A risada de Dylan parecia o som de um tornado arrancando um telhado. “Estou
feliz por ter esperado, semideus. Eu sabia de Leo e Piper por semanas. Eu poderia tê-los
matado a qualquer momento. Só que minha senhora me disse que havia um terceiro a
caminho — alguém especial. Ela vai me recompensar enormemente pela sua morte!”
20
Mais duas nuvens em forma de funil apareceram de cada lado de Jason e se
transformaram em ventus — rapazes espectrais com asas de fumaça e olhos que
tremeluziam como raios.
Piper se manteve abaixada, fingindo estar aturdida, sua mão ainda segurando o
galho. Seu rosto estava pálido, mas ela deu a Jason um olhar determinado e ele entendeu
a mensagem: mantenha-os distraídos, baterei neles por trás.
Linda, esperta e violenta. Jason desejava poder se lembrar de tê-la como sua
namorada. Ele fechou seus punhos e se preparou para atacar, mas ele nunca teve a
chance.
Dylan levantou sua mão com arcos de eletricidade correndo entre seus dedos, e
atirou em Jason no peito.
Bang! Jason se viu deitado de costas no chão. Sua boca estava com gosto de
lâmina de alumínio queimada. Ele levantou a cabeça e percebeu que suas roupas
estavam fumegando. O raio foi direto em sua direção e explodiu seu sapato esquerdo.
Seus pés estavam negros de fuligem.
Os espíritos da tempestade estavam rindo. Os ventos enfureciam-se. Piper estava
gritando desafiadoramente, mas tudo parecia metálico e distante.
Do canto de seu olho, Jason viu o treinador Hedge escalando o penhasco com
Leo nas suas costas. Piper estava de pé, balançando desesperadamente o galho para
afastar os dois espíritos de tempestade extras, mas eles estavam apenas brincando com
ela. O galho atravessou seus corpos como se eles não estivessem lá. E Dylan, um
tornado escuro com asas e olhos, avançou ameaçadoramente em direção a Jason.
“Pare,” Jason persuadiu. Ele se levantou cambaleante, e não tinha certeza de
quem estava mais surpreso: ele ou os espíritos de tempestade.
“Como você está vivo?” a forma de Dylan surgiu. “Aquilo tinha eletricidade
suficiente para matar vinte homens!”
“Minha vez,” disse Jason.
Ele colocou a mão no bolso e tirou a moeda de ouro. Ele deixou seus instintos
assumirem, lançando a moeda no ar como já tinha feito milhares de vezes. Ele a
capturou na palma da mão, e de repente estava segurando uma espada — uma arma
perversamente afiada de dois gumes. O cunho coube perfeitamente em seus dedos, e
tudo era puro ouro — cabo, cunho e lâmina.
Dylan rosnou e se apoiou para levantar. Ele olhou para seus dois comparsas e
gritou, “E então?! Matem-no!”
21
Os outros espíritos de tempestade não pareceram felizes com aquela ordem, mas
voaram em direção a Jason com seus dedos faiscando eletricidade.
Jason se atirou contra o primeiro espírito. Sua lâmina atravessou o espírito e a
forma esfumaçada da criatura se desintegrou. O segundo espírito atirou um raio, mas a
espada de Jason absorveu a carga. Jason se moveu para frente — uma rápida investida,
e o segundo espírito de tempestade se dissolveu em pó dourado.
Dylan se lamentou indignado. Ele olhou para baixo como se esperasse que seus
comparsas se reestruturassem, mas o pó dourado continuou disperso no ar. “Impossível!
Quem é você, meio-sangue?”
Piper estava tão aturdida que deixou o taco cair. “Jason, como…?”
Então o Treinador Hedge saltou de volta no observatório e derrubou Leo como
se fosse um saco de farinha.
“Espíritos, temam a mim!” Hedge berrou, flexionando seus braços curtos. Então
ele olhou em volta e percebeu que só havia o Dylan.
“Maldição, menino!” ele se virou para Jason. “Você não deixou alguns para
mim? Eu gosto de desafios!”
Leo se levantou, respirando com dificuldade. Ele parecia completamente
humilhado, suas mãos sangrando de escalar as pedras. “Ei, Treinador Super Cabra, ou o
que quer que você seja — eu acabei de cair do maldito Grand Canyon! Pare de pedir por
desafios!”
Dylan sibilou para eles, mas Jason podia perceber medo nos olhos dele. “Vocês
não fazem idéia de quantos inimigos vocês despertaram meio-sangues. Minha mestra irá
destruir todos os semideuses. Esta guerra vocês não podem vencer.”
Acima deles, a chuva se explodiu em uma tempestade com força total.
Rachaduras apareceram no observatório. Lençóis de água caíam, e Jason teve que se
abaixar para manter o equilíbrio.
Um buraco se abriu entre as nuvens — um turbilhão de preto e prateado.
“Minha mestra me chama de volta!” Dylan gritou de alegria. “E você, semideus,
virá comigo!”
Ele investiu contra Jason, mas Piper atacou o monstro por trás. Mesmo ele sendo
feito de fumaça, Piper de alguma maneira conseguiu se conectar. Os dois começaram a
cair. Leo, Jason e o treinador se inclinaram para ajudar, mas o espírito gritou com ódio.
Ele jogou uma corrente de ar que derrubou todos eles. A espada de Jason derrapou entre
o vidro. Leo bateu a parte de trás da cabeça e se encolheu em um canto, atordoado e
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gemendo. Piper recebeu o pior. Ela foi arrancada das costas de Dylan e bateu na grade,
caindo na borda até que ela estava pendurada por uma mão sobre o abismo.
Jason se moveu em direção a ela, mas Dylan gritou, “Eu vou me vingar por
essa!”
Ele agarrou o braço de Leo e começou a subir, arrastando um Leo semiconsciente
com ele. A tempestade rodopiou com mais força, puxando eles para cima
como um aspirador de pó.
“Socorro!” Piper gritou. “Alguém!”
Ela, então, escorregou, gritando enquanto caía.
“Jason vá!” Hedge gritou. “Salve-a!”
O treinador se lançou contra o espírito com alguns golpes fortes de Bode Fu —
atacando-o com seus chifres, liberando Leo do poder do espírito. Leo caiu são e salvo
no chão, mas Dylan agarrou o braço do treinador em troca. Hedge tentou cabecear ele, e
então o chutou e o chamou de queridinho. Eles se levantaram no ar, ganhando
velocidade.
O Treinador Hedge gritou mais uma vez, “Salve-a! Eu cuido disso!” Então o
sátiro e o espírito de tempestade rodopiaram entre as nuvens e desapareceram.
Salvar ela? Jason pensou. Ela está morta!
No entanto, outra vez seus instintos venceram. Ele correu para a grade pensando,
Eu sou louco, e pulou de lado.

Jason não estava com medo da altura. Ele estava com medo de ser esmagado no
chão do desfiladeiro, mil e quinhentos metros abaixo. Ele percebeu que não tinha
conseguido nada, exceto morrer junto com Piper, mas jogou os braços para frente e caiu
de cabeça. As bordas do desfiladeiro passavam por ele como num filme em velocidade
acelerada. Seu rosto parecia que estava descascando.
Num piscar de olhos, ele alcançou Piper, que caía descontroladamente. Ele
segurou a cintura dela e fechou os olhos, aguardando a morte. Piper gritou. O vento
assobiou no ouvido de Jason. Ele imaginou como seria morrer. Ele estava pensando,
provavelmente não era muito bom. Ele desejou que de alguma forma eles nunca
batessem no chão.
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De repente, o vento parou. O grito de Piper se transformou em um suspiro
estrangulado. Jason pensou que eles deveriam estar mortos, mas não sentiu impacto
nenhum.
“J-J-Jason,” Piper murmurou.
Ele abriu os olhos. Eles não estavam mais caindo. Estavam flutuando no meio do
ar, trezentos metros acima do rio.
Ele abraçou Piper com força, e ela se reposicionou de forma que também estava
abraçando ele. Eles estavam de frente, nariz a nariz. O coração dela batia tão forte que
Jason podia sentir através da roupa dela.
O hálito dela cheirava a canela. Ela disse “Como você—”
“Eu não fiz nada,” ele respondeu. “Acho que eu saberia se soubesse voar…”
Então ele pensou: Eu não sei nem mesmo quem eu sou.
Ele pensou estar subindo. Piper ganiu conforme eles começavam a ir para cima.
Eles não estavam exatamente flutuando, Jason decidiu. Ele podia sentir a pressão
embaixo dos pés como se eles estivessem balançando em cima de um cilindro a gás.
“O ar está ajudando a gente,” ele disse.
“Bem, diga a ele para ajudar mais! Tira a gente daqui!”
Jason olhou para baixo. A coisa mais fácil a fazer seria descer tranquilamente até
o chão do desfiladeiro. Então ele olhou para cima. A chuva tinha parado. As nuvens não
pareciam tão violentas, mas ainda estava trovejando e piscando. Não havia garantia de
que os espíritos tinham sumido de vez. Ele não fazia idéia do que tinha acontecido ao
Treinador Hedge. E ele tinha deixado Leo lá em cima, semi-inconsciente.
“Nós temos que ajudá-los,” Piper disse como se lesse os pensamentos dele.
“Você pode—”
“Vamos ver.” Jason pensou para cima, e instantaneamente eles foram em direção
ao céu.
O fato de ele estar escalando o ar seria algo legal em outras circunstâncias, mas
ele estava extremamente em choque. Assim que eles alcançaram o observatório,
correram em direção a Leo.
Piper virou para Leo, e ele grunhiu. O casaco dele de exército estava ensopado
pela chuva. Seu cabelo cacheado brilhava a ouro por rolar em pó de monstro. Mas pelo
menos ele não estava morto.
24
“Estúpido… bode… feio,” ele murmurou.
“Aonde ele foi?” Piper perguntou.
Leo apontou para cima. “Nunca voltou. Por favor, diga que ele não salvou
mesmo a minha vida.”
“Duas vezes,” Jason falou.
Leo grunhiu ainda mais alto. “O que aconteceu? O cara tornado, a espada de
ouro… eu bati a minha cabeça. Foi isso, certo? Estou alucinando?”
Jason tinha esquecido a espada. Ele foi até onde ela estava e a pegou. A lâmina
estava bem balanceada. Numa intuição ele a girou. No meio da volta, a espada se
transformou novamente em uma moeda e pousou na sua palma.
“É” Leo disse. “Definitivamente alucinando.”
Piper se arrepiou por causa da roupa molhada pela chuva. “Jason, aquelas coisas
—”
“Venti,” ele disse. “Espíritos de tempestade.”
“Tá. Você agiu como… como se você já tivesse visto eles antes. Quem é você?”
Ele balançou a cabeça. “É isso que eu estava tentando te dizer. Eu não sei.”
A tempestade parou. As outras crianças da Wilderness School olhavam para as
portas de vidro horrorizadas. Os guardas de segurança estavam mexendo nas
fechaduras, mas não pareciam estar conseguindo nada.
“O Treinador Hedge disse que tinha que proteger três pessoas,” Jason lembrou.
“Eu acho que ele estava falando da gente.”
“E aquela coisa em que o Dylan se transformou…” Piper tremeu. “Meu Deus, eu
não acredito que ele estava me passando cantadas. Ele chamou a gente de… como era,
semideuses?”
Leo se deitou de costas no chão, olhando para o céu. Ele não parecia ansioso
para levantar. “Não sei o que semi significa,” ele disse. “Mas eu não estou me sentindo
muito divino não. Vocês estão?”
Houve um som quebradiço como de galhos secos estalando, e as rachaduras no
observatório começaram a aumentar.
“Nós precisamos sair daqui,” Jason falou. “Talvez se nós—”
25
“Aaaah tá,” Leo interrompeu. “Olhem para cima e me digam se aquilo são
cavalos voadores.”
De início Jason pensou que Leo tinha batido a cabeça forte demais. Só que então
ele viu uma silhueta escura descendo do leste — devagar demais para ser um avião,
grande demais para ser um pássaro. Conforme foi se aproximando, ele pôde ver um par
de animais alados — cinza, de quatro patas, exatamente como cavalos — exceto pelo
fato de que cada um tinha asas de seis metros. E eles estavam puxando uma caixa
pintada com duas rodas: uma biga.
“Reforços,” ele disse. “Hedge disse que um pelotão de extração estava vindo
atrás da gente.”
“Pelotão de extração?” Leo se levantou. “Isso parece doloroso.”
“E para onde eles vão extrair a gente?” Piper perguntou. Jason observou a biga
pousar na ponta do observatório. Os cavalos alados dobraram suas asas e galoparam
nervosamente através do vidro, como se sentissem que estava quase quebrando. Dois
adolescentes estavam na biga — uma loira alta, talvez um pouco mais velha que Jason,
e um cara largo com a cabeça raspada e um rosto como uma pilha de tijolos. Os dois
usavam calças jeans e camisetas laranja, com escudos guardados nas costas. A garota
pulou antes mesmo de a biga parar de andar. Ela pegou uma faca e correu em direção ao
grupo de Jason enquanto o cara largo controlava os cavalos.
“Onde ele está?” a garota demandou. Seus olhos cinzentos eram ferozes e um
pouco assustadores.
“Onde está quem?” Jason perguntou.
Ela franziu o cenho como se a resposta dele fosse inaceitável. Então ela se virou
para Leo e Piper. “E o Gleeson? Onde está o seu protetor, Gleeson Hedge?”
O primeiro nome do treinador era Gleeson? Jason teria rido se a manhã não
tivesse sido tão estranha e assustadora. Gleeson Hedge: Treinador de futebol, homem
bode, protetor de semideuses. Claro. Por que não?
Leo pigarreou. “Ele foi capturado por algumas… coisas-tornado.”
“Os Ventus,” Jason disse. “Espíritos de tempestade.”
A menina loira levantou uma sobrancelha. “Você quer dizer anemoi thuellai?
Esse é o termo grego. Quem é você e o que aconteceu?”
Jason se esforçou ao máximo para explicar, embora fosse difícil encarar aqueles
olhos cinzentos tão intensos. Mais ou menos no meio da história, o outro cara da biga se
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aproximou. Ele ficou lá encarando eles, seus braços cruzados. Ele tinha uma tatuagem
de arco-íris no bíceps, o que parecia um pouco atípico.
Quando Jason terminou a história, a garota loira não parecia satisfeita. “Não,
não, não! Ela me disse que ele estaria aqui. Ela disse que se eu viesse aqui, encontraria a
resposta.”
“Annabeth,” o cara careca grunhiu. “Olha só.” Ele apontou para o pé de Jason.
Jason não tinha parado para pensar a respeito, mas ele ainda estava sem seu
sapato esquerdo que tinha sido arrancado pelo raio. Seu pé livre estava bem, mas
parecia um pedaço de carvão. “O cara com um sapato só,” disse o cara careca. “Ele é a
resposta.”
“Não, Butch,” a garota insistiu. “Ele não pode ser. Eu fui enganada.” Ela olhou
para o céu como se ele tivesse feito algo errado. “O que vocês querem de mim?” ela
gritou. “O que vocês fizeram com ele?”
O céu tremeu, e os cavalos relincharam urgentemente.
“Annabeth,” disse o cara careca, Butch, “nós temos que ir. Vamos levar esses
três pro acampamento e tentar descobrir lá. Aqueles espíritos de tempestade podem
voltar.”
Ela exasperou-se por um momento. “Ótimo.” Ela encarou Jason com um olhar
ressentido. “Nós vamos resolver isso depois.” Ela girou o corpo pelo calcanhar e
marchou em direção à biga.
Piper balançou a cabeça. “Qual é o problema dela? O que tá rolando?”
“Sério mesmo,” Leo concordou.
“Nós precisamos tirar vocês daqui,” Butch disse. “Eu explico no caminho.”
“Eu não vou a lugar nenhum com ela.” Jason apontou em direção à loira. “Ela
me olha como se quisesse me matar.”
Butch hesitou. “Annabeth é tranquila. Você tem que dar uma folga pra ela. Ela
teve uma visão dizendo a ela para vir aqui, para achar um cara com um sapato só. Essa
deveria ser a resposta para o problema dela.”
“Qual problema?” Piper perguntou.
“Ela está procurando por um dos nossos campistas, que está desaparecido há três
dias,” Butch disse. “Ela está perdendo a cabeça de preocupação. Ela esperava que ele
estivesse aqui.”
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“Quem?” Jason perguntou.
“O namorado dela,” Butch disse. “Um cara chamado Percy Jackson.”
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Capítulo III
DEPOIS DE UMA MANHÃ DE ESPÍRITOS DE TEMPESTADE, homens-bode, e namorados
voadores, Piper deveria estar perdendo a cabeça. Ao invés disso, tudo que ela sentia era
medo.
Está começando, ela pensou. Assim como o sonho disse.
Ela ficou na parte de trás da biga com Leo e Jason, enquanto o cara careca,
Butch, controlava as rédeas, e a garota loira, Annabeth, ajustava um aparelho de
navegação feito de bronze. Eles subiram o Grand Canyon e rumaram para o leste, o
vento frio passando direto pelo casaco de Piper. Atrás deles, mais nuvens de tempestade
estavam se formando.
A biga balançou e deu um solavanco. Não havia cintos de segurança e a parte de
trás estava aberta, então Piper pensou se Jason poderia pegá-la novamente se caísse.
Aquilo fora a parte mais perturbadora da manhã — não que Jason pudesse voar, mas
que ele havia segurado ela nos braços e ainda não sabia quem ela era.
Em todo o semestre ela trabalhou no relacionamento, tentando fazer Jason notála
mais que como uma amiga. Finalmente ela havia conseguido a grande vitória de
beijá-lo. As últimas semanas foram às melhores de sua vida. E então, três noites atrás, o
sonho havia arruinado tudo — aquela voz horrível, dando-lhe horríveis notícias.
Ela não tinha contado para ninguém, nem mesmo Jason.
Agora ela nem mesmo tinha a ele. Era como se alguém tivesse apagado a
memória dele, e ela estava presa no pior “repetir” de todos os tempos. Ela queria gritar.
Jason ficou no seu lado direito: aqueles olhos da cor do céu, o cabelo loiro cortado
curto, aquela pequena e bonita cicatriz no seu lábio superior. Seu rosto era bondoso e
gentil, mas sempre um pouco triste. E ele só olhou para o horizonte, nem mesmo
notando-a.
Entretanto, Leo estava sendo aborrecedor, como de costume. “Isso é tão legal!”
Ele cuspiu uma pena de pégaso da boca. “Para onde estamos indo?”
29
“Para um lugar seguro,” Annabeth disse. “O único lugar seguro para pessoas
como nós. Acampamento Meio-Sangue.”
“Meio-Sangue?” Piper estava imediatamente de guarda. Ela odiava aquela
palavra. Ela fora chamada de meio-sangue várias vezes — meio índia, meio branca — e
nunca era um elogio. “Esse é algum tipo de brincadeira sem-graça?”
“Ela quer dizer que somos semideuses,” Jason disse. “Meio deuses, meio
mortais.”
Annabeth olhou para trás. “Você parece saber muito, Jason. Mas, sim,
semideuses. Minha mãe é Atena, deusa da sabedoria. O Butch aqui é o filho de Íris, a
deusa do arco-íris.”
Leo silenciou-se. “Sua mãe é uma deusa do arco-íris?”
“Tem algum problema com isso?” Butch disse.
“Não, não,” Leo disse. “Arco-íris. Muito macho.”
“Butch é nosso melhor equitador,” Annabeth disse. “Ele se dá bem com os
pégasos.”
“Arco-íris, pôneis,” Leo murmurou.
“Eu vou lhe jogar dessa biga,” Butch alertou.
“Semideuses,” Piper disse. “Você quer dizer que acha que é... você acha que nós
somos —”
Um raio lampejou. A biga estremeceu, e Jason gritou, “A roda direita está
pegando fogo!”
Piper recuou. Sem dúvida, a roda estava queimando, chamas brancas engolindo
o lado da biga.
O vento zuniu. Piper olhou atrás deles e viu formas escuras formando-se nas
nuvens, mais espíritos de tempestade espiralando para a biga — exceto que esses
pareciam mais como cavalos do que anjos.
Ela começou a falar, “Por que eles são —”
“Os anemoi vem em diferentes formas,” Annabeth disse. “Às vezes humana, às
vezes garanhões, dependendo de quão caóticos eles são. Segure-se. Isso vai ficar feio.”
Butch chicoteou as rédeas. Os pégasos aumentaram a velocidade com uma
explosão, e a biga obscureceu. O estômago de Piper subiu a garganta. Sua visão estava
escura e, quando voltou ao normal, eles estavam num lugar totalmente diferente.
30
Um oceano cinza e frio estendia-se à esquerda. Campos cobertos de neve,
estradas, e florestas expandiam-se na direita. Diretamente abaixo deles havia um vale
verde, como uma ilha de primavera, cercada com colinas nevadas em três lados e com
água no norte. Piper viu construções como os templos da Grécia Antiga, uma grande
mansão azul, complexos esportivos, um lago, e uma parede de alpinismo que parecia
estar em chamas. Mas, antes que ela realmente pudesse processar tudo que estava
vendo, as rodas deles soltaram e a biga despencou do céu.
Annabeth e Butch tentaram manter o controle. Os pégasos trabalharam para
segurar a biga no vôo, mas eles pareciam exaustos da explosão de velocidade, e carregar
a biga e o peso de cinco pessoas era simplesmente demais.
“O lago!” Annabeth gritou. “Mire no lago!”
Piper se lembrou de algo que seu pai havia contado uma vez para ela, sobre cair
na água de grandes alturas ser tão ruim quanto cair em cimento.
E então — BUM.
O maior choque foi o frio. Ela estava submersa, tão desorientada que ela não
sabia qual caminho levava para cima.
Ela só tinha tempo para pensar: Esse seria um jeito estúpido de morrer. Aí faces
apareceram na escuridão verde — garotas com longos cabelos negros e olhos amarelos
brilhantes. Elas sorriram para ela, pegaram seus ombros, e a puxaram.
Elas lançaram-na para cima, ofegando e tremendo de frio, para a praia. Próximo,
Butch estava no lago cortando as armaduras naufragadas dos pégasos. Felizmente, os
cavalos pareciam bem, mas eles estavam batendo as asas e espirrando água para todo
lado. Jason, Leo, e Annabeth já estavam na praia, rodeados por garotos dando-lhes
cobertores e fazendo perguntas. Alguém pegou Piper pelos braços e ajudou-a a ficar em
pé. Aparentemente as pessoas caiam no lago com frequência, pela razão de que alguns
dos campistas correram para cima dela com folhas grandes de bronze parecendo
sopradores e jogaram ar quente em Piper, que fez com que em, aproximadamente, dois
segundos suas roupas estivessem secas.
Havia pelo menos vinte campistas ao redor — o mais novo de talvez nove anos,
o mais velho em nível de faculdade, dezoito ou dezenove — e todos eles tinham
camisetas laranja como à de Annabeth. Piper olhou novamente para a água e viu aquelas
garotas estranhas um pouco abaixo da superfície, seus cabelos flutuando na correnteza.
Elas acenaram com adeusinho, e desapareceram nas profundezas. Um segundo depois
os destroços da biga foram puxados do lago e pousados próximo com um ruído
molhado.
31
“Annabeth!” Um cara com um arco e aljava nas costas abriu caminho através da
multidão. “Eu disse que você poderia pegar emprestada a biga, e não destruí-la!”
“Will, me desculpe,” Annabeth suspirou. “Eu vou consertá-la, prometo.”
Will olhou zangado para sua biga destruída. Então ele julgou Piper, Leo, e Jason.
“São esses? Pelo jeito, maiores de treze. Por que ainda não foram reclamados?”
“Reclamados?” Leo perguntou.
Antes que Annabeth pudesse responder, Will disse “Algum sinal de Percy?”
“Não,” Annabeth admitiu.
Os campistas murmuraram. Piper não tinha idéia de quem esse cara, Percy, era,
mas seu desaparecimento parecia ser algo consideravelmente grande.
Outra garota avançou — alta, asiática, o cabelo negro em cachos, várias jóias, e
maquiagem perfeita. De algum jeito ela conseguia fazer jeans e uma camiseta laranja
parecerem deslumbrantes. Ela olhou para Leo, fixou os olhos em Jason como se ele
fosse valioso de sua atenção, então torceu os lábios para Piper como se ela fosse um
burrito velho que havia sido tirado de uma lixeira. Piper conhecia esse tipo de garota.
Ela tivera relações com várias garotas assim na Wilderness School e todas as outras
estúpidas escolas que seu pai havia mandado-a. Piper soube instantaneamente que elas
seriam inimigas.
“Bem,” a garota disse, “eu espero que eles valham o problema.”
Leo bufou. “Nossa, obrigado. O que nós somos, seus novos mascotes?”
“Sem brincadeiras,” Jason disse. “Quem sabe algumas perguntas antes de vocês
começarem a nos julgar — tipo, o que é esse lugar, porque estamos aqui, quanto tempo
temos que ficar?”
Piper tinha as mesmas perguntas, mas uma onda de ansiedade passou sobre ela.
Valham o problema. Se eles ao menos soubessem sobre seu sonho. Eles não tinham
idéia...
“Jason,” Annabeth disse, “prometo que vamos responder suas perguntas. E
Drew” — ela franziu para a garota bonita — “todos os semideuses valem a pena salvar.
Mas vou admitir que a viagem não foi como eu esperava.”
“Ei,” Piper disse, “nós não pedimos para sermos trazidos aqui.”
Drew fungou. “E ninguém quer vocês. Seu cabelo sempre parece um texugo
morto?”
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Piper avançou pronta para bater nela, mas Annabeth disse “Piper, pare.”
Piper parou. Ela não estava nem um pouco amedrontada com Drew, mas
Annabeth não parecia com alguém que ela iria querer como inimiga.
“Precisamos fazer nossos novos recém-chegados sentirem-se em casa,”
Annabeth disse, com outro olhar afiado para Drew. “Vamos designar um guia para
cada, dar um passeio no acampamento. Esperançosamente, na fogueira essa noite, eles
serão reclamados.”
“Alguém vai me dizer o que significa reclamados?” Piper perguntou.
Subitamente houve um ofego coletivo. Os campistas cederam. Primeiro Piper
pensou que fez algo errado. Então ela percebeu que seus rostos estavam banhados numa
estranha luz vermelha, como se alguém tivesse acendido uma tocha atrás dela. Ela virou
e quase esqueceu como respirar.
Flutuando sobre a cabeça de Leo estava uma imagem holográfica em chamas —
um martelo de fogo.
“Isso,” Annabeth disse, “é ser reclamado.”
“O que eu fiz?” Leo voltou para o lago. Então ele olhou para cima e gritou.
“Meu cabelo está queimando?” Ele abaixou-se, mas o símbolo seguiu-o, sacudindo e
trançando de forma que parecia que ele estava tentando escrever algo em chamas com a
cabeça.
“Isso não deve ser bom,” Butch murmurou. “A maldição —”
“Butch, cale-se,” Annabeth disse. “Leo, você acabou de ser reclamado —”
“Por um deus,” Jason interrompeu. “Esse é o símbolo do Vulcano, não é?”
Todos os olhos viraram para ele.
“Jason,” Annabeth disse cuidadosamente, “como você sabia disso?”
“Não sei.”
“Vulcano?” Leo perguntou. “Eu nem GOSTO de Jornada nas Estrelas. Sobre o
que vocês estão falando?”
“Vulcano é o nome romano para Hefesto,” Annabeth disse, “o deus dos ferreiros
e do fogo.”
O martelo de fogo enfraqueceu, mas Leo continuou agitando o ar como se
tivesse medo que aquilo estivesse lhe seguindo. “O deus do quê? Quem?”
33
Annabeth virou para o cara com o arco. “Will, você poderia ficar com Leo, dar
um passeio? Apresente-o aos seus companheiros no Chalé Nove.”
“Claro, Annabeth.”
“O que é Chalé Nove?” Leo perguntou. “E eu não sou um Vulcão!”
“Vamos lá, Sr. Spock, eu vou explicar tudo.” Will colocou uma mão no ombro
dele e desviou-o em direção aos chalés.
Annabeth voltou sua atenção para Jason. Geralmente, Piper não gostava quando
outras garotas olhavam seu namorado, mas Annabeth não parecia se importar de que ele
fosse um cara bonito. Ela estudou-o mais como se ele fosse uma planta complicada.
Finalmente ela disse, “Mostre seu braço.”
Piper viu o que ela estava vendo, e seus olhos arregalaram-se.
Jason tinha tirado seu casaco depois do mergulho no lago, deixando os braços
nus, e no lado do seu antebraço direito tinha uma tatuagem. Como Piper nunca havia
notado antes? Ela olhara para os braços de Jason um milhão de vezes. A tatuagem não
poderia ter simplesmente aparecido, mas estavam gravadas sombriamente, impossível
de errar: uma dúzia de linhas retas como um código de barras, e acima delas, uma águia
com as letras spqr.
“Eu nunca vi marcas como essa,” Annabeth disse. “Onde você as conseguiu?”
Jason sacudiu a cabeça. “Eu realmente estou cansado de dizer isso, mas eu não
sei.”
Os outros campistas empurraram-se para frente, tentando dar uma olhada na
tatuagem de Jason. As marcas pareciam aborrecê-los muito — quase como uma
declaração de guerra.
“Elas parecem queimadas na sua pele,” Annabeth notou.
“Elas foram” Jason disse. Então ele estremeceu como se sua cabeça estivesse
doendo. “Quero dizer... Eu acho que sim. Eu não lembro.”
Ninguém disse nada. Estava claro que os campistas viam Annabeth como a líder.
Eles estavam esperando por seu veredicto.
“Ele precisa ir direto para Quíron,” Annabeth decidiu. “Drew, você iria —”
“Absolutamente.” Drew atou seu braço com o de Jason. “Desse jeito, querido.
Eu vou lhe apresentar ao nosso diretor. Ele é... um cara interessante.” Ela deu a Piper
um olhar presunçoso e dirigiu Jason em direção à grande casa azul na colina.
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A multidão começou a dispersar, até sobrar somente Annabeth e Piper.
“Quem é Quíron?” Piper perguntou. “Jason está em algum tipo de encrenca?”
Annabeth hesitou. “Boa pergunta Piper. Vamos lá, vamos dar uma volta.
Precisamos conversar.”
35
Capítulo IV
PIPER LOGO PERCEBEU QUE O CORAÇÃO DE ANNABETH não estava no passeio.
Ela falou sobre todas essas coisas surpreendentes que o acampamento oferecia
— arco e flecha mágico, equitação de pégaso, a parede de lava, luta com monstros —
mas ela não demonstrou nenhuma animação, como se sua mente estivesse em outro
lugar. Ela apontou para o pavilhão de jantar ao ar livre que contemplava do alto o
Estreito de Long Island. (Sim, Long Island, Nova York; eles haviam viajado aquela
distância na biga.) Annabeth explicou que o Acampamento Meio-Sangue era na maior
parte um acampamento de verão, mas alguns garotos ficavam aqui quase um ano, e eles
tinham adicionado tantos campistas que sempre estava cheio agora, até no inverno.
Piper queria saber quem dirigia o acampamento, e como eles sabiam que Piper e
seus amigos eram membros dali. Ela queria saber se teria que ficar em tempo integral,
ou se ela teria alguma vantagem nas atividades. Você poderia ser jubilado na luta com
monstros? Milhões de perguntas borbulhavam na sua cabeça, mas dado o ânimo de
Annabeth, ela decidiu ficar quieta.
Enquanto eles subiam uma colina na beira do acampamento, Piper virou e teve
uma incrível visão do vale — uma grande extensão de florestas ao noroeste, uma linda
praia, o riacho, o lago de canoagem, magníficos campos verdes, e a amostra completa
dos chalés — um bizarro agrupamento de construções, arranjados como um ômega
grego, Ω, com um laço de chalés ao redor de um campo central, e duas asas ressaltando
a base em cada lado. Piper contou vinte chalés ao total. Um brilhava a ouro, outro a
prata. Um tinha grama no telhado. Outro era vermelho vivo com trincheiras de arame
farpado. Um chalé era preto com ardentes tochas verdes na frente.
Tudo isso parecia como um mundo diferente das colinas nevadas e campos do
lado de fora.
“O vale é protegido dos olhos mortais,” Annabeth disse. “Como você pode ver,
o clima é controlado, também. Cada chalé representa um deus grego — um lugar para o
filho daquele deus viver.”
Ela olhou para Piper como se estivesse tentando julgar como Piper estava
tratando as notícias.
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2primeiro livro de herois do olimpo part 1 Empty O_O Seg Ago 15, 2011 12:17 pm

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